Saí do Brasil, em pleno mês de maio, cheia de curiosidade. Como deve ser envelhecer num país onde seu povo se percebe e se declara feliz? Os velhos também se sentem felizes por lá? Aqui, felicidade e alegria não parecem ser consideradas atributos da velhice. Vivemos aqui uma época em que a maioria acha que envelhecer nos rouba beleza, vigor físico, dinheiro. Aqui a velhice é uma ameaça à felicidade. A felicidade dinamarquesa também é extensiva aos velhos? Como será isto por lá? Eu vou conseguir entrar um pouco na vida deles e poder tirar minhas próprias conclusões? E a vontade maior era que com esta abordagem fosse possível entender como se vive a velhice por lá e ver se, de alguma forma, podemos aproveitar, por aqui, algumas das ideias de lá.
Fui lá tentar intuir, a partir de conversas com um pequeno grupo de idosos aos quais tive acesso das formas mais inusitadas, seja por conversas com desconhecidos em trens e ônibus, restaurantes, parques; seja por visitas a parentes de amigos que lá moravam e me abriram as portas das casas de seus familiares. A compreensão também foi montada através de visitas a instituições de longa permanência para idosos, o equivalente aos nossos ditos asilos, os plejehjem (pronuncia-se “plaiême”); a centros de atividades similares aos nossos centro-dia, os aktivitetscenteret; a instituições de pesquisa e a um laboratório de teste de produtos destinados ao bem-estar de idosos e cuidadores.
Colhi uma perspectiva bem particular. Esta visita ao país feliz não pretende ser uma pesquisa como desejei de início mas pode dar uma visão de esperança e um olhar distinto do que temos aqui, no Brasil. Gostei do que vi e fantasio que talvez seja possível criar condições parecidas, se não para minha geração, a dos nascidos entre 1946 e 1964, os ditos baby boomers, mas pelo menos para os que nos sucederão.
Saí daqui com metas modestíssimas de visitar instituições com quem mantive contato prévio estando ainda aqui. Meu plano era que a partir destas visitas iniciais fosse possível obter outros contatos para conversar com meia dúzia de pessoas que, com sorte, me abririam suas reservadas portas. Nunca pude prever o quanto seria fácil conversar com os dinamarqueses, nunca me passou pela cabeça que pudessem ser tão abertos a contatos. Chegando lá, um primeiro papo casual num restaurante, com um casal ( ele com 65, ela com 73) me deu segurança para começar a puxar conversa com quem minha intuição me levasse a pensar que seria um entrevistado interessado em me contar sobre o estilo de vida dos “prateados” de lá. Sempre iniciava a abordagem me apresentando como uma professora aposentada brasileira que se interessava sobre o tema “tecnologia e envelhecimento” e estava iniciando uma sequencia de visitas a países para aprender como se envelhecia noutros lugares que não o Brasil. E sempre recebia de volta interesse em continuar o papo. Ouvi, da maioria, um pedido para não dar publicidade às fotos. As autorizações que recebi para usar as fotos vieram das mulheres com mais de 80 anos. As horas de conversa foram, realmente, deliciosas, as muitas respostas interessantes me fizeram ter uma boa ideia de como viviam os idosos no entorno de Copenhague. E entender a importância de se ter uma velhice ativa. O que nos isolará não será a velhice mas as consequências de uma velhice mal planejada, sem saúde, sem autonomia, sem dinheiro suficiente para garantir lazer e as necessidades básicas.
Estas pessoas com quem tive oportunidade de conversar, em suas casas, nos trajetos de trem ou ônibus, nos bares, parques, museus, supermercados, lojas, etc., tiravam minhas dúvidas sobre suas rotinas, seus amigos, suas atividades, tipo de lazer, trato com a saúde, aposentadoria, situação financeira, preocupação quanto ao futuro, sua satisfação quanto à saúde, vida amorosa, e seu país. Cheguei lá sem ainda saber como ia abordar. As pessoas eram escolhidas, obviamente, por serem idosas. Conversei também com pessoas abaixo dos 50 mas com estas muito mais sobre suas visões sobre a Dinamarca do que sobre a velhice.
Minha opinião sobre a vida dos idosos de lá é de que o país se organizou de uma forma tal que a transição da vida adulta para velhice, para a vida depois da aposentadoria, é feita de maneira tranquila e segura. O dinamarquês, sendo um povo afeito ao planejamento, já se dá conta da velhice décadas antes dela acontecer. Sem querer passar a impressão de que acho sem graça sua atitude de ter um plano de voo para vida, ou que reputo como uma espécie de previsibilidade sem imaginação mais ou menos comum a maioria deles o fato de terem um roteiro para suas vidas, fica a impressão de que não faz parte do que eles querem o sonho de ter uma vida com muita adrenalina e fortes emoções. A vida seguirá em capítulos planejados, com padrões pré-definidos e se desenrolando num ambiente de segurança social e econômica que vai lhes dar: escola, saúde, trabalho, família e, por fim, a hora da aposentadoria que possibilitará a merecida etapa de uma velhice digna.
Resumo aqui, as principais perguntas e as respostas ouvidas nestas conversas e visitas. As respostas eram, impressionantemente parecidas, fato explicado por eu ter uma amostra com entrevistados de um mesmo extrato social: mesmo bairro, de uma mesma cidade. As mulheres foram maioria nesta amostra, numa indicação de que lá, como aqui, “elas” ficam mais espevitadas do que “eles” com a chegada dos tempos prateados, batem mais pernas por aí, aproveitam para tirar o atraso e por a vida em dia.
- Qual sua idade? Estado civil? Quantos filhos?
A idade variou entre 65 e 93.
A maioria de viúvas. Apenas uma solteira.
A maioria com filhos, entre 2 e 3 filhos. Apenas um casal e uma solteira, não tinham ou tiveram filhos.
- Quando se aposentou? Foi muito difícil tomar esta decisão? Houve algum receio de que parar de trabalhar fora de casa poderia significar envelhecer mais rapidamente?
Todos se aposentaram ao atingir a idade mínima, 65 anos. Apenas uma pessoa relatou que procurou um trabalho de consultoria mas encerrou a atividade aos 70 anos. Uma senhora de 75 anos, trabalha há 3 anos, num emprego parcial de 9 horas semanais como caixa de supermercado, além de ter outra atividade voluntária. Todos acham que parar de ter um emprego formal não acelera o envelhecimento já que as pessoas passam a se dedicar mais a cuidar da saúde e podem fazer trabalho voluntário.
- Há muito receio de que a pensão não seja suficiente?
Não. A maioria diz que “não se fica rico com a pensão mas ela basta para se manter o padrão de vida anterior.
- Como é a rotina?
O dia começa com algum tipo de atividade física, banho, café da manhã, tarefas domésticas, preparo do almoço, ida ao supermercado a cada dois dias, almoço, descanso, ida ao Centro de Atividade próximo de casa. Muitos frequentam aulas de dança ou de idioma. Todos relatam a importância de sair de casa, com frequência, ainda que na época do inverno.
- Como cuida da saúde?
Poucos remédios, poucas visitas médicas. Todos relataram a média de uma ida anual ao médico. Não é comum fazer exames radiológicos ou outros considerados sofisticados. Ninguém relatou a prática de auto medicação, nem o hábito de complementação com fitoterápicos ou suplementos vitamínicos. Acreditam que uma boa alimentação supre a necessidade do organismo.
Fazem exercícios desde sempre. Andam de bicicleta e depois a substituem pelo rollator, um andador com rodas e cestinha similar à das bicicletas. Defendem que tem que se locomover, nem que seja levando o dobro do tempo que se levava em tempos de pernas boas.
- Como é a vida amorosa?
Namorar muitas querem mas há menos homens que mulheres. Viver na mesma casa, ninguém acha boa ideia. A maioria não tem namorado. Mas vão à cata, em aulas de dança e passeios.
- O que fazem como lazer?
Todos tem um hobby. Todos frequentam cinemas, museus e clubes. É comum frequentarem associações ( jardinagem, culinária, etc. ). Gostam de cantar e alguns fazem aula de dança. Ninguém relatou não considerar sua vida sem lazer, nesta fase.
- Sentem preocupação quanto ao futuro?
Resposta quase que unânime: “Não, isto estragaria a vida”. O único temor é o da perda da saúde.
- O que planejam fazer se a pensão não cobrir mais as despesas?
Todos os entrevistados confiam que os impostos pagos na juventude garantirão a pensão adequada para a velhice. Todos confiam que o governo cuidará da garantia dos seus direitos.
- Ficaria contente em morar com os filhos? E com outro amigo?
Morar com os filhos não passa pela cabeça de ninguém. Todos planejam viver em suas casas enquanto forem autônomos física e mentalmente. Não sendo assim, a opção é ir para um plejehjem (asilo). Os filhos estarão na fase de cuidar de suas crianças e assim é como deve ser. Sem drama ou sentimento de abandono. Viver com outro amigo também não é uma opção vista com entusiasmo.
- Faz algum tipo de trabalho voluntário?
A grande maioria. Ou nos centros que frequentam ou em atividades promovidas pela comunidade.
- Algum trabalho remunerado?
Alguns trabalham, com remuneração, entre 6 e 9 horas semanais. Mas os com idade superior a 80 anos acha que está na hora de aposentar para valer.
- O que acontece quando não puder mais tomar conta de si mesmo?
O estado decide a hora que se vai pro plejhehem. Compreensivelmente, não gostam muito de desenvolver o tema.
- Que acha da ideia de ir morar num asilo?
Isto só acontecerá se ficar em situação de dependência completa. Ida para o asilo não parece tragédia, é natural e é assim que tem que ser. O momento de sair de uma casa maior para um apartamento pequeno também não é tragédia, está previsto desde sempre, significa mais comodidade numa fase em que já não se tem tanta energia física sobrando. É um povo que aceita bem a realidade, as condições dadas pelo momento.
- O que mais o chateia na velhice? A perda da beleza? A diminuição do padrão financeiro? A diminuição da função social? A precarização da saúde?
A precarização da saúde foi unanimidade.
- A solidão incomoda?
É, os amigos vão morrendo mas não é preciso ficar muito só, pode-se sempre ir a um centro de atividades e lá construir novos laços de amizade. É preciso ter convívio social, não necessariamente com amigos do peito mas com quem se possa ter uma conversa, sobre os fatos da atualidade, literatura, música, etc.
- O que acha da possibilidade de estender seu tempo de permanência em sua casa tendo a ajuda da tecnologia?
Todos acham que se a tecnologia simplificar a vida, pode ser muito bom. Mas a maioria não consegue dizer que tipo de equipamento gostaria de ter para auxiliá-lo. Não sabiam dizer, espontaneamente, que tipo tecnologia seria interessante. Quando instados a opinar sobre a possibilidade de poder se comunicar com amigos e parentes pela tela da televisão, podendo vê-los em tamanho grande, sempre respondiam com entusiasmo que isto seria muito bom, desde que fosse possível fazê-lo usando apenas o controle da tv.
- Gostaria de ser monitorado via câmeras por seus filhos, para se sentir mais cuidado?
“Como assim?!!!!”. Isto seria uma invasão e um fardo para os filhos que já tem muitos afazeres, eles estão na época de cuidar dos filhos e se preparar para o futuro, não de ficar vigiando seus pais, numa ocupação desnecessária.
- Gostaria de ser avisado pelas dispensers pills ( caixinhas de guardar remédios) da hora de tomar seus remédios?
Outra unanimidade. Muito bom não esquecer de tomar um remédio.
- Gostaria de ter um equipamento que os ajudasse a secar as costas, por exemplo, a calcar as meias?
Seria bom mas a maioria não confia que seja fácil que um equipamento faça isto.
- Gostaria de poder fazer compras dos mantimentos pela internet e recebê-las em casa?
Só quando for impossível andar e sair de casa. Mas a entrega em domicílio não é hábito local.
- Gostam de aprender novas coisas? Fazer algum curso?
Todos aprendem alguma coisa, fazem cursos rápidos de alguma coisa, melhoram os conhecimentos para desenvolver seu hobby, jardinagem por exemplo.
- Usam a internet? Tablets? Smartphones?
Minha expectativa, por ser da área de tecnologia e ancorada na certeza do quanto ela é indispensável nos dias de hoje, era a de que lá as pessoas pudessem me fazer relatos de grande afinidade com esta expectativa para o “aging in place”. Tive que lidar com a frustração de ver um papel quase inexistente para ela nas casas que visitei e nas respostas que obtive. Sempre que expressava minha surpresa por tão baixo interesse pela ajuda que a tecnologia poderia fornecer, tinha de volta a comum expressão de “como assim? Ou a de “isto vai fazer tanta diferença mesmo?”. É um povo que foi criado para a autonomia. Enquanto pode se mexer e enquanto a cabeça funciona, gosta de dar conta das tarefas que a vida requer. Admirável. A tecnologia só vai ter realmente valor para os asilos, onde vivem as pessoas que precisam ser ajudadas nas tarefas rotineiras.
- Você concorda com este resultado de que a Dinamarca é o país mais feliz do mundo?
A maioria acha que o resultado desta pesquisa reflete mesmo o fato de que os dinamarqueses estão felizes com as condições de vida oferecidas por seu país. Apenas uma pessoa respondeu que se esta era a minha impressão, talvez eu estivesse conversando com as pessoas erradas. Mas ao ser perguntada sobre sua impressão, ela admitiu que não gostaria de estar vivendo a velhice num lugar que não oferecesse o nível de proteção social existente na Dinamarca.
- Entre 0 e 10, que nota você daria a sua própria felicidade?
A maioria deu nota entre 8 e 9, alegando que se não fosse pela saúde, por mais que se cuide dela nunca é como na juventude, a nota seria maior.
Um pouco sobre os Centros de Atividade (Aktivitscenteret )
Estes centros, mantidos em conjunto pelos governos locais e pela população, através de atividades de captação de recursos e trabalho voluntário, são um espaço da maior importância para garantia de que os idosos possam se manter ativos. Lá eles tem aulas, oficinas de cerâmica, marcenaria, pintura, tecelagem, bijuterias. Jogam cartas e sinuca, cantam em corais, tocam instrumentos, fazem festas, mantém brechós, são voluntários em tarefas na rotina dos centros e participam de grupos que contribuem para causas sociais em outros países. Têm refeições a preços módicos, cabeleireiros, espaço para pilates, podólogos. Lá, uns cultivam uma espécie de vigilância sobre os demais, dando a falta dos que deixam de aparecer nos centros. E, mesmo com o proverbial respeito dinamarquês à privacidade, isto pode significar, em alguns casos, ser lembrado em momentos cruciais da vida. Dentre os que visitei, dois me chamaram atenção: o Selmersbro e o Sophielund.
O primeiro, além de todas as atividades frequentes nesses espaços, oferece um serviço de aconselhamento para seus frequentadores, apoiando-os, por exemplo, nas decisões de venda das suas casas e compras de apartamentos menores, nas escolhas sobre onde aplicar melhor suas economias, etc. Localizado às margens de um dos lagos de Hørsholm, com invejáveis instalações físicas, é frequentado por mais de 700 idosos e gerido por uma equipe de três pessoas permanentes e grupos de voluntários. A “gerente” do Centro aparece, em uma das fotos abaixo, apoiada num rollator que a leva e traz para o trabalho diário.
O centro Sophielund oferece o mesmo leque de atividades do Selmersbo, e também com instalações de ótima qualidade e localização excelente. Os frequentadores com limitações físicas contam com um ônibus (the red bus) para buscá-los em casa e levá-los até o Centro.
Um pouco sobre os Plejehjem, instituições similares às nossas ILPI ( instituições de longa permanência para idosos)
Sophielund também tem uma instituição de longa permanência para as pessoas já sem condições de viverem sozinhas, em suas casas. São um conjunto de unidades residenciais com sala, quarto, banheiro, jardinzinho, decoradas de modo personalizado, como a casa da Inge que foi para lá acompanhando o marido, Niels, que ficou com sequelas de um acidente vascular cerebral, e seguiu vivendo lá depois da morte do marido porque apesar de não se enquadrar no perfil dos que já precisam ir para um plejehjem já estava lá há mais de 8 anos e sua presença era benéfica para ela e para os que lá viviam. Os que estão em estágio avançado de algum tipo de demência senil, tem assistência integral. Os que têm algum tipo de limitação podem viver com assistência parcial, em suas casas.
As instalações são confortáveis, limpas e todos tem um padrão de assistência compatível com suas necessidades. Sophielund é o tipo de lugar que se visita e não se sai com o coração apertado. É uma instituição onde se pode viver estes dias da velhice de uma forma digna, com a certeza de que as pessoas envolvidas na entrega dos serviços requeridos são responsáveis e empáticas.
Saí de lá certa de que temos aqui, no Brasil, que buscar soluções semelhantes para o contingente de idosos que certamente precisarão viver longe de seus filhos e precisando de uma estrutura como esta. Não há luxo, há apenas a decisão de se seguir com um padrão de vida que as pessoas usufruíam antes de irem para lá. A escolha de uma infraestrutura confortável como compensação pela delicadeza do estado de saúde e do natural afastamento de seus familiares.
Para alguém criado, segundo os valores nordestinos de décadas atrás de um familiar idoso deve viver com sua família até o fim, este lugar é objeto de muita reflexão. A maneira lógica e racional como os filhos encaram a situação de um progenitor, distanciado do mundo em razão de avançado estado de demência, não teve como não me chocar um pouco. Alguns deles, diante do fato de que não são mais reconhecidos, simplesmente deixam de visitar seus velhos. Um traço cultural que causa estranhamento. Mas, em nenhum momento me ficou dúvida, se chegar o dia em que precise de atenção e cuidados, estando em situação similar, tudo o que espero é que haja, onde eu viva, um lugar como este para ir viver.
Um pouco sobre o Living Lab Strandvejen (http://livinglabstrandvejen.kk.dk/)
Este é um laboratório muito especial. Mantido pela municipalidade de Copenhagen, tem o objetivo de testar equipamentos e produtos a serem usados por idosos ou pelos empregados, em suas casas ou nos plejehjem. São itens que facilitarão não apenas a vida do idoso mas também a dos empregados, uma preocupação muito pertinente dado que a mão de obra nesta área é escassa e precisa ser o máximo possível cercada de possibilidades que facilitem seu trabalho. Os dinamarqueses não costumam chamar de cuidador às pessoas contratadas para prestar os serviços necessários aos idosos com algum tipo de limitação, eles parecem recusar o termo que pode soar como um eufemismo que mascara a dificuldade da tarefa.
Para reproduzir mais fielmente as condições de vida de um idoso foi construído um apartamento modelo onde são tratados todos os aspectos da sua rotina e pensadas suas necessidades para uma vida com qualidade. Há a reprodução de um apartamento com um quarto, cozinha, sala, banheiro, com área média de 70 metros quadrados, com o mobiliário e utensílios necessários.
O laboratório se insere dentro do programa de saúde pública e qualidade de vida do idoso e tem como missão avaliar a adequação dos produtos já disponíveis no mercado ou em fase de teste. Os produtos são comprados dos fabricantes para garantir a isenção da avaliação. Foi desenvolvida uma metodologia que integra os empregados que cuidam de idosos, idosos usuários, empresas e a equipe do LLS para uma abordagem completa dos produtos, levando em consideração sua funcionalidade, custo, utilidade, facilidade de uso, valor que agrega ao objetivo de melhoria da qualidade de vida do idoso bem como a dos empregados.
O objetivo de facilitar a tarefa do empregado é um aspecto digno de nota. Reflete uma visão de política pública que o considera ator dos mais importantes para alcance do objetivo. Envolver o idoso na avaliação, além de garantir o sucesso do produto, traz uma abordagem nova de considerar o idoso parte do processo e não apenas um usuário incapaz de expressar sua demanda.
É frequente observarmos que muita coisa que é produzida para o público idoso pula a etapa de conhecer bem o cliente e sua demanda, há uma tendência a se considerar um idoso incapaz e uma tentação de se definir por ele sua demanda. Aqui eles presam a contribuição do profissional de designer que estuda a experiência do usuário.
O LLS faz um trabalho admirável e vale a pena visitar seu site onde se pode ver os produtos em teste: camas, tecidos especiais para cobertas, cadeiras, privadas, mobiliário de cozinha que permita o trabalho com conforto, sentado ou em pé, sensores de movimento, itens para estímulo à memória e várias outras coisas que podem facilitar a vida do idoso e do empregado encarregado do apoio às tarefas diárias.
Qualquer falta de semelhança entre a Dinamarca e o Brasil não é mera coincidência. Pode haver muitas explicações e entender como se dá este processo por lá é um passo inicial para se refletir sobre o que queremos que exista aqui para a população idosa de amanhã. Na vida dos idosos, por lá, predomina independência, autonomia, planos e sonhos. Mantém o foco no momento presente, sem se preocupar com o andar da vida para não estragá-la. Têm a certeza inabalável de que quando não puderem mais viver por si próprios a sociedade está preparada para acolhê-los. Na juventude, cuidaram da saúde e planejaram uma base material adequada. Andam por aí de bicicleta, e ruas e calçadas projetadas para todas as idades, saem delas e entram em trens, ônibus e metrôs que cumprem o horário e tem itinerário compreensível. Vão a museus, cinemas, teatros, aulas e clubes. Não precisam pagar planos de saúde de valores extorsivos, visitam médicos poucas vezes ao ano, tomam poucos remédios e prezam uma alimentação saudável. Reclamam, às vezes, de solidão mas não culpam suas famílias. São comunicativos e simpáticos. Envelhecer num país onde todos são educados para ter o dever de casa pronto quando a velhice chegar é uma dádiva. Infelizmente, muito do contexto social que lá existe não pode ser replicado por aqui, dado que foi pensado, concebido e implantado ao longo da formação da identidade do país, não foi feito do dia para a noite. Um país que tem consciência de que seu povo tem diretos e deveres diversos para as distintas faixas etárias da população, pode ser mesmo um bom lugar para envelhecer.