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Você sabe o que é K-Pop?

Lançado em 2012, clipe de ‘Gangnam Style’, do sul-coreano Psy, teve mais de um bilhão de acessos na internet em poucas semanas.

O sul-coreano Psy fez o mundo inteiro dançar, em 2012, ao som de Gangnam Style, um sucesso do gênero musical batizado como K- pop, “korean pop music’. Mas K-pop é muito mais que isso.

A dança e música do cantor ficaram conhecidas por 1 bilhão de pessoas, em poucas semanas, batendo recordes de visualização no YouTube. A língua, uma barreira agora superável com a ajuda dos dicionários online, não foi impedimento para se entender a mensagem contida na letra: uma possível crítica ao estilo de vida luxuoso e badalado dos moradores descolados de Gangnam, um bairro de Seoul. Ouvidos mais atentos, enquanto rebolavam, tentavam entender o que estava acontecendo. 

Líderes mundiais como Obama, Cameron e Ban Ki-moon, na época à frente da ONU, apareceram nas telas, repetindo a coreografia. Não era só por terem aderido à moda que se espalhou, no mundo virtual. Eles viram que a K-pop tinha fãs diferentes dos convencionais, a curtição dos seus ídolos ia mais além. Perceberam a semente de um movimento social, nesse fã-clube. 

Misturar música com ativismo social ou político não é coisa inédita. No entanto, em tempos de Internet, essa junção ganha uma força nova, capaz de alcançar pessoas de todas as idades, etnias e classes sociais, espalhadas pelo planeta. Na Coreia do Sul, os fãs da K-pop, viravam um fenômeno. São pessoas que dominam o conhecimento das mídias sociais, têm uma consciência política que não deve ser subestimada e, enquanto curtem um “som”, trabalham em prol de alguma causa. Eles se organizam em torno de preferências musicais e, também, de questões tidas como importantes mas relevadas pelas instâncias de poder. O que começou com um fã-clube, visto como uma futilidade inócua, ganhou novos propósitos e arregimentou adeptos, mundo afora. A receita estava dada.

Recentemente, vimos espetaculares exemplos de como atuam estes fãs modernos.

Nos EUA, a polícia de Dallas, incentivou a população a denunciar os manifestantes do Black Lives Matter, por “atividade ilegal”, usando um aplicativo fornecido por ela. Os fãs da K-pop inundaram o app com postagens de vídeos de 30 segundos obtidos das suas fan-cams, as câmeras dos fãs. As denúncias foram diluídas no meio de milhares de imagens divertidas. A alcaguetagem não obteve sucesso. E mais, eles conseguiram arrecadar, em somente um dia, mais de 01 milhão de dólares para organizações que apoiam o Black Lives Matter. Um jeito de novo de filantropia?

Donald Trump também foi alvo dessa força difusa, ao ignorar os protestos contra a realização de um comício, em meio à pandemia. Os k-popistas usaram o TikTok para “comandar” a compra dos bilhetes para assistir ao evento. O boicote era comprar para não comparecer e esvaziar as arquibancadas. Estima-se que a quantidade adquirida foi suficiente para garantir uma audiência que desapontou os organizadores. Os lugares vagos na plateia eram visíveis e uma área preparada para o caso de super lotação, permaneceu sem uso. Deram um toque de fiasco à festa do poderoso Trump.

É bom atentar para a força política dos fãs da música K-pop e começar a antecipar as consequências. Seus métodos poderão ser replicados, ameaçando forças estabelecidas. Poderão ser imitados, com outros propósitos. Mesmo que caibam críticas, não se deve ignorar o que os move e como operam. São grandes grupos de pessoas munidas de perspicácia, humor sarcástico e inteligência para usar a mídia social de um modo magistral. Têm uma capacidade de mobilização online, rápida e eficiente. Foram responsáveis, em 2019,  pela impressionante cifra de 6 bilhões (!!!) de tweets sobre seu gênero musical. Imagine-se o quanto podem fazer, usando as plataformas digitais disponíveis.

É de se ficar pensando, neste jeito “decifra-me ou devoro-te”, dos tempos atuais. Certamente, muito ainda vai se ouvir falar sobre o ativismo online inspirado pelos fã-clubes da K-pop.

Publicado no jornal A UNIÃO, de João Pessoa – PB, em 23 de julho de 2020