Quem nunca levou um “fora” fenomenal, um pé no traseiro, uma bela dispensada de alguém que era o amor da sua vida? Quem nunca ficou sem chão, ouvindo uma desculpa esfarrapada que punha fim a um romance que se queria eterno? Quem já não se afundou numa “roedeira” sem fim, numa dor de cotovelo arrasadora? Quem nunca alugou os ouvidos de amigos para queixas intermináveis sobre o desfecho de um caso de amor? Quem já rasgou fotos, ou deletou posts das redes sociais, ou tentou apagar a laser as memórias de uma paixão tatuada no braço?
Há quem diga que todos deveríamos passar por isso, ao menos, uma vez na vida. Juram que só quem teve um amor interrompido contra sua vontade, pode evoluir e se tornar alguém mais compassivo e empático. Tenho cá minhas dúvidas e acho que há jeitos menos doloridos de se chegar ao mesmo resultado.
Os motivos que tornam os fins de casos de amor dolorosos e imperdoáveis são vários e as reações dos desprezados, idem. Lidar com a dificuldade da superação pode não trazer crescimento mas, às vezes, transforma os inconsoláveis em seres completamente diferentes do seu eu anterior, capazes de reações antes impensáveis .
Há os que quebram carros, difamam seus ex, fazem músicas lindas como “Atrás da Porta”. Há os que tentam se matar. Há vingativos, capazes das piores crueldades, como zerar a conta bancária do sacana que o abandonou. Há os que partem sem nada e os que saem deixando para trás montanhas de boletos a pagar. Há quem se demite de empregos ótimos, por pura incapacidade de seguir trabalhando em meio a lágrimas e soluços. Uns acabam com suas economias, se endividam, perdem as rédeas da vida. Outros mudam de cidade. Há quem recorra às cirurgias plásticas, lipo aspiração, escovas progressivas, sobrancelhas micro pigmentadas; na expectativa de que uma nova imagem reacenda a chama apagada. Alguns saem feito loucos em busca daquela primeira namorada para soprar suas feridas. Muitos trocam de carro ou até de estilo de vida, viram hippie, experimentam viver em repúblicas ou topam até passar mais horas do dia nos bares do que em casa. Há reação de todo tipo para enfrentar o sofrimento.
A mais interessante delas foi a do casal de artistas croatas, Olinka Vistica e Drazen Grubisic, produtora de filmes e escultor. Eles estiveram juntos por 4 anos e, ao se separarem, naquela fase de dividir os pertences, brincaram que deviam fazer uma exposição que contasse o final do casamento. Anos depois, Drazen propôs a Olinka, fazerem juntos, um museu para muitas pessoas contarem suas próprias histórias, através dos objetos ligados aos momentos mais marcantes delas.
A ideia prosperou. Eles começaram a recolher objetos de amigos e pediram financiamento coletivo para montar a primeira exposição, em 2006, em Zagreb.
Assim nasceu um dos museus mais originais do mundo: o Museum of Broken Relationships ou, numa tradução livre, do Museu dos Relacionamentos Quebrados. E na minha: Museu dos Corações Partidos.
Seu acervo é formado por doações, vindas de todos os lugares do mundo, de objetos pessoais e do relato do papel que a peça teve no fim da história de amor. São os mais variados: cartões postais, chaves, alianças, sapatos, celulares, vestidos de noiva e até um machado, usado por alguém que destruiu todos os móveis da casa após ter sido abandonado. A reação das pessoas lá dentro, é um outro espetáculo. O espaço se enche de lágrimas, risadas. As frases escutadas são ótimas. “Foi assim mesmo comigo”. “Eu devia ter mandado para aqui toda a roupa que rasguei, daquele desgraçado”. “Por que queimei aquelas cartas? Poderiam estar aqui, mostrando seus erros gramaticais”.
O Museu conta histórias românticas, trágicas, tristes, banais mas todas elas remetem a momentos bastante conhecidos de todos nós, de tristeza e desespero dos finais. Funciona no palácio barroco de Kulmer, na parte histórica de Zagreb.
Falar sobre o desamor valeu ao Museum of Broken Relationships, várias vezes , o prêmio de museu mais inovador da Europa, exposições itinerantes e uma franquia fora do país.
Seu site, além de ótimas fotos, tem um mapa do número de “corações partidos” que fizeram suas doações, e onde eles vivem. Vale visitar https://brokenships.com