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O nordestino e o cuscuz

Não vivo sem cuscuz e sou uma cuscuzeira das melhores que conheço.

Zero de modéstia e toneladas de vaidade :-). Eu preparo, pra ninguém botar defeito, todo os modelos do cuscuz de milho ( o amarelo O branco feito pelos baianos é outra viagem).

Faço o bichinho bem fofinho, pronto para ser afogado na manteiga ou requeijão, ensopado em leite de coco docinho, virado numa farofinha com sobras do almoço. Faço uma releitura metida a besta, entremeando a massa com grana padano, um queijo de outras terras que me deixa com o paladar em êxtase e roxa de inveja de não ter sido inventado pelos meus conterrâneos. Fica bom que só.

Há muitos segredos na preparação, já divididos com os amigos aficionados. Mas a cuscuzeira a homenagear aqui é o utensílio que me acompanha há 45 anos e que considero um verdadeiro sucesso como produto. Feita sem preocupação com design, funcionalidade ou firulas exigidas pelo mercado, ela segue “top of mind” na preferência do consumidor, desde que o mundo é mundo.

A minha foi feita na Casa da Pancada, em Campina Grande. Mais não precisa ser dito. Minha cuscuzeira amiga viajou mais que muita gente. Morou noutro país e em várias cidades. Primas dela foram presenteadas a hóspedes meus que voltaram para o outro lado do Atlântico e outros hemisférios, trocando croissants, muffins, pancakes, tortilhas pelo saudável milho seco ralado e cozido no vapor.

Depois que o glúten virou vilão, o cuscuz tão solenemente ignorado e pouco compreendido por gostos refinados, teve seu merecido reconhecimento. Hoje, é saboreado com o mesmo prestígio no circuito Brejo do Cruz- Rio- Nova York-Paris. O cuscuz de milho é um tipo de manjar dos deuses. Saciedade e prazer no café da manhã, almoço, jantar, sobremesa. Acessível a todos os bolsos, um caso de engenharia alimentar a se aplaudir.

Já vi releituras hipsters da panela que alimenta os brasileiros sem terras onde o trigo gosta de nascer para o feitio do pão. Não dá no mesmo. No desespero, eu mesma já me rendi ao micro ondas, a escorredor de macarrão e ao método raiz que só pode ser descrito com mais um post. Mas o sabor do cuscuz numa cuscuzeira velhinha, de asas toscas e amassada por anos de uso, é incomparável. Juro.

Da série patrimônio material do sertanejo.