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A primeira amiga a fazer 70 anos

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* Não sei se a amiga chegou a ler. Dois anos depois, ela se foi. As duas teimamos em achar que éramos senhoras do tempo e não havia pressa para perdões.

De repente, sua primeira amiga querida faz 70 anos!

Os aniversários, seus e dos amigos, passam a ter significados especiais quando o tempo vivido é maior do que o que se tem por viver. É uma conta sem lógica que não se rege pela matemática mas o resultado tem sempre cara de déficit. Quando se chega a esta idade, são poucos os que tem uma forte esperança de viver mais outro tanto.

Os 70 anos de uma grande amiga é coisa muito esquisita. Talvez pela novidade. É desconcertante pensar que temos uma amiga idosa. Talvez, pela resistência. Não é fácil aceitar a passagem do tempo. Mas esta nova idade é uma grande novidade que mexe com os sentimentos mais contraditórios, que nem sequer sabíamos guardados dentro de nós.

Começamos a remexer as gavetas do coração e vamos encontrando lembranças alegres de um passado que nos presenteou com uma amizade que nos fez melhor e mais felizes. Ao mesmo tempo, damos de cara com sentimentos que roubam da gente a felicidade vivida antes. São emoções que, ao mesmo tempo, queremos e não queremos sentir. Independente da idade que se tem, os 70 de uma amiga vão nos por de frente a um espelho com cara de balcão de atendimento. Numa lista de espera para eventos dos quais não sabemos bem se queremos participar, alimentando a ilusão de que nos cabe escolher.

Os 70 de uma amiga nos deixa de coração mole e saudoso, nos faz nostálgicos, deixa esta amizade mais forte. Mesmo se ela tiver acabado ou se ainda seguir adiante, unilateral, por teimosia só sua.

Uma data como esta é impossível não celebrar, estando sua amiga viva ou morta. Idem, para a amizade que um dia as uniu. O presente vai em forma de poesia.

Silenciosos parabéns
Não lembro dos aniversários tristes
Só dos alegres.

Lembro apenas dos tempos em que éramos jovens e felizes
Lembro somente do tempo em que a vida não havia endurecido nossos corações
Nem anuviado nossas ideias.
Recordo só os aniversários de uma época em que éramos generosas e protetoras da nossa amizade.
Quando o perdão estava a postos mesmo sem ser necessário,
Quando víamos uma à outra como causa de felicidade.

Lembrança vívida de uma cumplicidade tão grande
Que era difícil mesmo separar a ideia do autor.

Lembro de aniversários sem nenhum motivo para alegria
Mas cheio de promessas e certezas boas.
Gargalhadas sobre as derrotas e risos sobre as esperanças.
Festa de beijos e abraços.
Sem roupa nova, sem dinheiro e sem namoro querido ou bacana.
Clima cheio de amor por viver.
Festejos de uma idade que se sabia transitória mas de uma amizade suposta ser eterna.

Ser jovem é saber ter amigos imperfeitos. Aos 20, 30, 40 ou 70.