Vivendo, contando e inventando histórias

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Seiscentos e sessenta e seis

O poeta juntou os números 6 nos versos e batizou o poema que teimou em ser conhecido como O Tempo. Ah, Quintana, a pandemia, essa besta do apocalipse, me maltrata com sua poesia. 

Meu tempo passa e não passa, paradoxal como o gato de Schrodinger.

“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa”

Não sei fazer esse dever e desconheço a quem entregar. Um vírus desgraçado decretou que viver é perigoso demais para os meus cabalísticos 66 anos de idade e me pôs em prisão domiciliar, para desaprender a passagem do tempo. Isolada, sem turma e sem professor. 

“Quando se vê, já são seis horas!”

Seis horas da manhã ou da tarde? Nem tomei banho ainda. Almocei antes do café da manhã. Cama desarrumada, sem testemunha. Louça que não sabe quando será lavada. Panelas queimadas. Roupas desconfiando que não serão trocadas.

“Quando se vê, já é sexta-feira!”

O calendário desistiu de mim. Os dias da semana se camuflaram ficando iguais, não os vejo passar.

Sem saber mais de urgências e desejos, vou deixando livros e filmes para amanhã. Porque amanhã talvez seja sábado.

“Quando se vê, já é Natal”

E daí? As datas que eu mais amava me foram roubadas.

Quando vi, chegou o dia das Mães sem trazer os beijos dos meus filhos. Todos no WhatsApp, de lá não podiam sair. Em vez de risos e abraços, emojis.

Chegou o dia da Avó e o neto que deixei engatinhando, descobriu como andar sem precisar da minha mão. Enquanto eu matava as horas mortas, ele aprendeu palavras que não pude ensinar. Perdi seu cheirinho de bebê que se evaporou no FaceTime.

Dei por mim e já era Agosto. O dia dos Pais foi confundido com festa no Zoom.

“Quando se vê, já terminou o ano

Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida