“Desfotogenia” ou roubo de almas. Fotogenia é um conceito que não vigorava nos meados das décadas de 50 e 60. Não havia ainda o software que retoca fisionomias desconfortáveis frente a uma lente que nem sempre é do amor.Perguntei aos oráculos modernos o porquê de algumas pessoas serem tão “desfotogênicas” e nem o Quora me deu uma explicação convincente. Tive que recorrer a outras fontes e eis as respostas:a) As câmeras de antigamente são as culpadas. Não tinham recursos técnicos para registrar com fidedignidade a beleza escondida de algumas crianças da minha época. Vi fotos, feitas com uma Rolleiflex, e ainda assim, a desfotogenia era grande 
b) Fotografia era coisa cara, naquele tempo, e nem toda família podia bancar esse luxo. Nós, criancinhas, nos sentávamos nos banquinhos dos estúdios com tanta culpa pela despesa, que nem Cartier-Bresson teria sido capaz de captar nossa graça. Se a pessoinha fosse uma menina, o bicho pegava. Como sorrir feliz com uma gola de organdi espetando nossos pescocinhos como um famigerado cilício, daqueles usados na era medieval para auto flagelo? Os laços que nossas mães teimavam em achar graciosos, eram encarapitados no nosso cucuruto, amarrados com tanta força que as fotos faziam crer termos uma ascendência oriental. Os olhinhos ficavam tão puxados que as lágrimas não conseguiam escorrer.c) a opção mais poética me foi segredada por um índio da tribo Tabajara, um cacique imponente dono de uma vasta nação que ignorava as fronteiras da Paraíba e de vizinhas capitanias ilógicas. “Fotografias roubam a alma de quem se expõe a uma máquina, seja por vaidade, seja por vontade de eternizar sua imagem”, ele me contou. Um desfotogênico sabe disso, inconscientemente, e na hora agá fecha ou revira os olhos, entorta a boca, faz uma cara esquisita que não é sua. Protege sua alma da fotografia. Vi sentido e consolo na explicação do cacique. Sempre achei que a criança nas minhas fotos não era eu. Uma cara raivosa, enfeitada como se fosse sair para a procissão da padroeira, brincos e pulseiras dadas pela avó, bolsinha de crochê tão feinha e um laço maior que a cabeça.Vou mudar minha foto de perfil, não. 
