Vivendo, contando e inventando histórias

Uncategorized

O Desafio da Longevidade

Chiara Zarmati/The New York Times

No início deste século, a ONU produziu uma declaração de objetivos de desenvolvimento do milênio visando prover soluções para os problemas considerados os mais críticos para o mundo. Eram oito metas a serem perseguidas no campo da saúde, erradicação da pobreza, educação, trabalho. Nesse documento, não houve citação ao fenômeno do envelhecimento da população mundial. No entanto, a pressão do impacto demográfico sobre a sociedade aqueceu o debate e, no início desta década, firmou-se a tendência de se considerar o envelhecimento populacional o maior desafio a ser enfrentado neste século. Um problema que a humanidade enfrenta pela primeira vez, em termos quantitativos e qualitativos. 

A previsão é de que, em 2050, seremos 2.1 bilhões de pessoas com mais de 60 anos de idade, no mundo. No Brasil, 68 milhões. Estaremos preparados para este cenário? Qual o significado da longevidade para o indivíduo? E para a coletividade?

A intrigante novidade é que viver muito não vai ser mais opcional ou casual. O progresso científico fará com que morrer seja cada vez mais difícil e nossas vidas terão a duração de 150 a 200 anos. Esta possibilidade com jeito de ficção científica, é defendida por Aubrey de Gray, da Singularity University. Segundo ele, não haverá mais a opção de não envelhecer. Todos seremos longevos. Esta vida tão longa é uma parte crucial do fenômeno chamado de Singularidade, explicado como sendo um momento, no futuro, quando o crescimento tecnológico se torna incontrolável, resultando em insondáveis mudanças para a civilização humana. 

Ray Kurweil, futurista americano, afirma que a singularidade acontecerá em torno de 2045, época em que “os humanos transcenderão os limites de seus corpos biológicos e cérebros e as máquinas serão humanas, apesar de não biológicas”. 

Um jeito de explicar Singularidade é imaginar que, há 50 anos, os fundamentos do que seria a Internet de hoje, estavam se formando.  Já havia um revolução em curso, alguns sabiam disso mas não poderiam precisar direito o que os novos tempos trariam. Era difícil imaginar algo que parece ser inimaginável. 

A Singularidade aponta para um mundo onde a longevidade é esta revolução em curso e um grande desafio está posto. 

Para enfrentá-lo, os especialistas propõem segmentá-lo em três partes:

a) o desafio Biológico – como assegurar capacidade física e mental durante toda a vida,

b) o desafio Social – como garantir função social no período em que os longevos vivem a aposentadoria,

c) o desafio Cultural – como prover uma velhice respeitada e acolhida.

Os três segmentos precisarão criar condições de garantia de renda, acesso à saúde, promoção do envelhecimento ativo, moradia, aprendizado contínuo, segurança, participação cívica e cuidados de longa duração para os mais vulneráveis. A ciência precisará mitigar os danos causados pelas doenças do grupo das demências ou,  do contrário, disfunções cognitivas vão por em dúvida o valor de se prolongar a vida humana até um limite onde ela não seja mais reconhecida como tal. 

Garantidas estas condições, segue a pergunta: viver muito é bom ou ruim? A longevidade será um fardo ou um ganho para a humanidade? Quem viver, verá.